Inovação Pulverizada
Nos últimos tempos surgiram grandes centros de inovação espalhados pelo país, são incubadoras, parque tecnológicos, polos de inovação e aceleradoras.
É muito interessante observar todo esse movimento, pois existe a possibilidade de criação de novas tecnologias em todas as regiões do país e o mais importante apoio ao ecossistema empreendedor, mas o que me preocupa de fato é que muitas vezes essas organizações surgem apenas para gerar emprego, onde somente o efetivo dessas instituições são os beneficiados.
Já observei grandes incubadoras que esqueceram o motivo de sua existência, deixando de canto os atores principais, os empreendedores.
Dá a impressão que acabou criando-se um mercado em torno do empreendedor, onde são poucas as instituições que de fato estão preocupadas em alavancar seus negócios, a maioria esmagadora ganha dinheiro em cima do sonho do empreendedor.
Com a falta de cultura empreendedora em todo o ecossistema, o empreendedor não encontrará instituições ou pessoas que estejam dispostas a correrem o risco em conjunto. Aí fica uma pergunta que martela a minha cabeça: será que isso acontece por falta de conhecimento básico no âmbito jurídico ou porque ninguém de fato quer trabalhar em projetos com perspectiva de retorno de investimento a longo prazo?
Vale lembrar que são poucas as pessoas que conhecem ou estão dispostas a trabalhar por stock options ou phanton stocks. Mas de novo, será falta de conhecimento?
O fato é que não vejo nenhum trabalho macro sério sendo desenvolvido nessas grandes instituições com o propósito de fazer com que essas empresas cheguem ao mercado. Será falta de visão?
Agora imagine que você acha que fará um diferencial enorme levar seu projeto fabuloso para uma incubadora. Saiba que você terá que pagar para se inscrever no edital e se selecionado vai pagar para ficar incubado. E olha que o valor cobrado não é muito diferente de um aluguel comercial em uma boa localização.
Nessa minha andança, já ví até aceleradoras que, ao invés de injetar recurso, o foco deles é vender cursos para os “acelerados”. Claro que é muito bacana dar um up em sua formação, mas acho interessante deixar claro os pontos. Não é bacana se disfarçar de aceleradora pra vender cursos.
Será que esse formato é interessante pulverizar pelo país?
Enfim, se esse nosso modelo revelar e conseguir alavancar negócios, terá atingido o objetivo principal que é gerar riqueza e empregos.
Uma observação interessante a se fazer é que nos EUA também existem várias iniciativas de apoio a empreendedores espalhados pelo país. Até Miami agora está procurando desenvolver o ecossistema empreendedor local. Mas por mais que essas ações regionais surjam, a grande mágica só acontece no Vale do Silicio e NY.
Será que seremos um grande case e conseguiremos desenvolver inovações em diferentes regiões do país?
Fico com essa dúvida e o que me resta é acompanhar e torcer pra que cada vez mais tenhamos ações sérias de apoio ao ecossistema empreendedor.
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11 Comments
Wágner, concordo bastante com você e me encontro tb num impasse, se devo alugar um ponto comercial bem localizado ou pagar para estar incubado ou acelerado.
Tenho um bom time e que conheçe o mercado e já tem expertise em negócios, mas estou num estágio de captação de investimentos, não posso cadastrar o projeto em sites por motivos de confidencialidade e somente em lugares como esses é que dão valor há uma empresa infelizmente. Visitei uma incubadora nessa semana e vi realmente as portas que podem ser abertas atém em nível de governo e com muitos investidores passando semanalmente pelo local.
Enfim gostaria de ver o dia em que não seremos tão dependente dessas instituições.
Olá Cassio, tudo bem?
Então, foque sempre nos clientes, não sei que tipo de projeto está envolvido, mas se puder rodar sem investidores é o melhor dos mundos, depois que tiver seu MVP e já com alguns clientes na base aí sim acho válido a captação.
Sobre estar em uma incubadora ou não tem que avaliar bastante os benefícios, pois a maioria acaba entrando só pra dizer que está em uma incubadora X, pois acham que isso agregar, e óbvio que você terá contato com governo e investidores, mas até aí isso não quer dizer muita coisa, pois o que importa é tração no mercado e isso se consegue com clientes e claro pra isso acontecer seu produto tem que ser bom. Não se apegue ao local onde sua empresa estará, foque nas pessoas que estarão com você, no seu time…
Boa sorte nesse momento de tomadas de decisão.
Abraços
Oi, Wagner, tudo bem?
Gostaria de saber: por que a grande mágica só acontece no Valle do Silício e NY?
Lenah, a mágica acaba acontecendo só lá, pois se criou um ecossistema de colaboração e quando digo colaboração falo sobre pessoas que compram o sonho uma das outras e batalham juntas correndo riscos.
Aqui o lema é, “Corro risco desde que eu receba meu salárim” ou seja as pessoas não cooperam entre si, pois querem somente o dinheiro no bolso.
Quando tivermos pessoas na mesma Vibe, projetos inovadores surgirão de forma mais dinâmica, mas pra isso teremos que ver um monte de projetos quebrando e quem entrou achando que é fácil vai pular fora e só os comprometidoscom seus sonhos permaneceram no ecossistema.
Entendi. E esse ecossistema de colaboração foi criado lá como?
Com todos compreendendo a importância da cultura empreendedora, faz parte dessa compreensão o entendimento da necessidade de investimentos de risco, isso só é possível com uma rede de investidores anjo consolidado.
Oi Lenah,
Esse Ecossistema de colaboração, que o Wagner cita, foi criado lá no Vale do Silício, através de um sistema aberto de (re)combinação de vários elementos. Dentre esses elementos, um destaque em especial a Guerra! Depois dela (II Guerra) as empresas privadas, como AT&T, HP e IBM, mesmo fornecedoras de tecnologia militar, não estavam tão propensas ao investimento, então a pesquisa militar ganhou muita força através de investimentos em Universidades como Stanford, com objetivo de atrair acadêmicos e cientistas – não coincidentemente, hoje um dos principais polos de inovação do mundo.
Resumidamente, isso fez com que muita gente fosse atraída para um único lugar, uma concorrência e disputa fosse cada vez mais forte, que atrelado ao surgimento do “Venture Capital” possibilitou pessoas com muito dinheiro, investissem em projetos baseados (quase unicamente) em ideias, devido a forte ligação com a comunidade. As pessoas se conheciam!
Espero ter ajudado.
Abraço,
Julio
Olá, Julio, tudo bem?
Muito bacana seu comentário. Você estuda o ecossistema dos EUA?
Olá Wagner,
Comungo de seus pontos de vista. Estamos passando por quase tudo o que mencionou. Represento a Vale Empreender de São José dos Campos, interior de São Paulo. Temos o objetivo de cocriar o Ecossistema Regional de Empreendedorismo e Negócios da RMVPLN.
O que tenho percebido é que os Parques Tecnológicos e estruturas formais com status de alavanca empreendedora, partem de um modelo de desenvolvimento exógeno. Esse processo de desenvolvimento de fora para dentro é muito determinista. Estabelece pré condições, direciona tecnologias e limita o número de oportunidades para a rede empreendedora.
Em certo ponto, compreendo algumas escolhas feitas e decisões tomadas pelos gestores destas estruturas. O termo “empreendedorismo” precisa de uma conceituação clara e bem definida. Como professor e pesquisador na área, tenho observado que, para o senso comum, tudo é empreendedorismo.
Esse entendimento acaba complicando um pouco as coisas. Todos saem em busca de empreender, com a falsa ideia de que tudo e qualquer coisa dará resultados satisfatórios.
Em paralelo à construção de uma cultura empreendedora, há que se estabelecer o espírito empreendedor permitindo o contágio desse espírito, juntamente com o entendimento dos aspectos de gestão que são condições sine quando non para a qualificação do processo empreendedor.
Para que tenhamos mais e melhores novas empresas alimentando os ecossistemas de empreendedorismo e negócios com qualidade, colaboração e competitividade, é preciso disseminar também a cultura da gestão. Eu mesmo demorei muito tempo para perceber, que empreendedorismo e gestão são os dois lados de uma mesma moeda. E essa moeda é a base do desenvolvimento econômico sustentável.
Neste contexto, ainda em formação, temos experimentado um modelo de desenvolvimento endógeno, partindo de dentro para fora. Desse modo, a estrutura formal está sendo construída aos poucos, mediante a demanda.
Este tipo de discussão é bastante oportuno. Sou grato por sua iniciativa.
Olá Carlos, tudo bem?
Ótimas pontuações.
Concordo contigo em todos os aspectos e gostaria de complementar com alguns pontos quando se refere a cultura da gestão, pois eu acredito que ela é fundamental, mas muitos empreendedores a ignoram, muitos dão a desculpa de não se importarem com a gestão, pois estão lutando diariamente para manter o negócio em pé e realmente sei o quanto é difícil manter o negócio rodando, planejar futuras ações e ao mesmo tempo gerir, acaba que o empreendedor liga o piloto automático e fica somente no plano operacional deixando o planejamento e a gestão de lado. Assim como na cultura empreendedora acreditamos que não são todos que empreenderão, acredito que não são todos que farão um planejamento e gestão da empresa, mas eles sabendo da necessidade poderão reservar recursos para manter pessoas que possam ajuda-lo nesses quesitos, pois sem saberem que é fundamental, os empreendedores encaram isso apenas como custo não dando atenção necessária.
Estamos juntos nessa jornada, eu que agradeço o seu feedback.
Acredito que é interessante complementar o Wagner Marcelo em sua resposta com o link do último conteúdo sobre Cultura Empreendedora que, em conjunto, estamos detalhando. Mais especificamente, os Tipos de Empreendedores que identificamos que existem. Nem todos tem o interesse de melhorar a gestão. E eles mesmos afirmam isso. Eles querem pagar as suas contas, viajar uma vez por ano nas férias e está ótimo. Não se importam em continuar a misturar o dinheiro da empresa com suas contas pessoais…
Segue link: https://outboxidea.net/cultura-empreendedora-principios-e-fundamentos